Oficial do Corpo de Bombeiros não quis aceitar doação de máscaras

Um caso inusitado beirando ao absurdo aconteceu na quinta-feira, dia 15 de abril, no Morro do Bumba. Estive lá para doar 30 máscaras modelo COMFO II com 60 filtros de gases ácidos, justamente o equipamento mais adequado para o pesado trabalho realizado naquele local. Porém, simplesmente, o oficial bombeiro que me atendeu se recusou a receber a doação. Seu argumento era de que a doação poderia ter um "caráter político". Falou ainda que para eu realizar a doação, teria que me dirigir ao QG do CBMERJ, no centro do Rio de Janeiro.
Alguém já viu isso?

Caixa com as máscaras e filtros para doação

Eu mesmo gostaria de saber que cunho político é esse, pois não sou candidato a nada. O mais interessante disso é que um dia depois da tragédia, nós estivemos no Morro do Bumba para doar 70 pares de luvas Raspa cano longo e 180 máscaras PFF2; e essas doações foram aceitas sem problemas. Aliás, foi durante essas idas ao Morro do Bumba que obtive informações de um coronel BM com décadas de experiência a respeito das máscaras ideais para esse trabalho específico (não vou declinar o nome do coronel para que não haja represálias. Tudo é possível).

Além do mais, só me dirigi ao Morro do Bumba porque queria que as máscaras fossem usadas pelos homens que lá trabalham. Pensava que ao entregar as máscaras apropriadas, o comandante da operação imediatamente iria distribuir o material.

O caso obteve uma repercussão maior porque vários veículos de comunicação já estavam de plantão na localidade acompanhando a remoção dos corpos. O que seria uma simples doação virou um fato ainda mais interessante para a mídia: a negativa de recebimento do material!

Sabemos que o estado é quem deveria distribuir o material, mas já que não faz, nós estamos agindo. O que queremos é garantir que o bombeiro trabalhe com seu equipamento de segurança individual completo.

Parece que aceitar a doação seria reconhecer que não recebem ajuda do estado. Como se sabe, o estado paga um salário de vergonha, não fornece o equipamento necessário e também não paga adicional de insalubridade para esses profissionais. Quer um lugar mais insalubre do que o Morro do Bumba?

Morro do Bumba: areia ácida, gás metano e chorume

O fato é que os bombeiros que trabalham no Bumba não estão usando máscaras adequadas e ficar por algumas horas no local já é suficiente para passar mal. Cada máscara COMFO II adquirida pela ASSINAP, custa, em média, R$ 90. Essas são as mais adequadas ao trabalho realizado no Bumba, onde os bombeiros entram em contato com gás metano e chorume. A exposição continuada e sem proteção ao chorume e gases tóxicos pode causar irritação nos olhos e nas mucosas do nariz e garganta, queimaduras, bronquite, alergias, náuseas, dor de cabeça, enjôo, intoxicação e doenças de pele.

O périplo
Para não desperdiçar o material e efetivar a doação, nos dirigimos ao QG do CBMERJ, no centro do Rio. Vejam bem, nós estávamos no local da tragédia, em Niterói, mas tivemos que fazer um deslocamento de cerca de 25 Km.
Uma vez no QG, a recepção foi totalmente diferente. O coronel BM Bonfim, diretor-comandante do Centro de Operações, recebeu os equipamentos com profissionalismo e atenção. Ele entendeu que a intenção da ASSINAP era ajudar os bombeiros, já que é uma associação de policiais e bombeiros militares.

No ato da entrega das máscaras, Cel. Bonfim imediatamente solicitou que seus comandados realizassem a contagem do material e agradeceu a doação, dizendo que a Instituição teve um acréscimo significativo no número de viaturas, e que as máscaras serão muito bem utilizadas.